Da Jordânia ao COFA: conheça a história do treinador Rafael, finalista da Liga Campineira Sub-20

Treinador do COFA relembra trajetória no Oriente Médio, destaca união do elenco e projeta final contra o Vila Boa Vista com espírito de superação.

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O convite para assumir o sub-20 do COFA foi a realização de um sonho de infância. (Foto: Reprodução/Instagram)

Campinas, SP, 06, (AFI) – Por trás da excelente campanha do COFA Sub-20 na Liga Campineira 2025 está um treinador com uma trajetória marcada não apenas pelo futebol, mas por experiências de vida que transformaram sua forma de liderar dentro e fora de campo. Rafael, natural de Paranavaí, interior do Paraná, percorreu um caminho singular até assumir o comando do tradicional Costa e Silva Futebol Associados (COFA), levando o clube a uma final histórica.

MISSÃO DE VIDA

A história de Rafael com o futebol começou cedo, ainda na infância, jogando futsal no interior paranaense — modalidade que, como ele mesmo diz, “é tradição no sul do Brasil”. Após se destacar nas quadras, ou em uma peneira para treinar no A (Atlético Clube Paranavaí), um dos principais times do estado, campeão paranaense poucos anos depois.

O sonho de se tornar jogador profissional parecia próximo, mas um grave acidente de moto mudou radicalmente seus planos. “Não consegui mais jogar futebol, foi quando decidi estudar para ser treinador”, relembra. O episódio não interrompeu sua relação com o esporte, apenas transformou sua perspectiva.

Rafael se converteu, tornou-se missionário e embarcou para uma jornada inusitada: atuar como voluntário no Oriente Médio, mais precisamente na Jordânia, na fronteira com Israel, Síria, Palestina e Iraque. Lá, fundou, ao lado da esposa, um instituto social que atendia crianças refugiadas da Síria e do Iraque, além de jovens beduínos — povos nômades que habitam os desertos da região.

Através do futebol, o projeto promovia inclusão social e reconstrução de vínculos comunitários em contextos de vulnerabilidade. Rafael também se formou como treinador na Ásia, realizando diversos cursos de qualificação na Jordânia, onde comandou equipes locais, conquistou títulos e, surpreendentemente, até voltou a jogar profissionalmente, recebendo salário por sua atuação em campo.

Na última Quinta-feira (05), a seleção da Jordânia conquistou um feito inédito ao se classificar pela primeira vez para a Copa do Mundo, após vencer Omã por 3 a 0 fora de casa. O feito histórico, alcançado menos de uma década após o período em que Rafael atuou no futebol jordaniano, destaca a evolução do esporte no país — realidade da qual o atual técnico do COFA também fez parte em sua agem por lá.

ENCONTRO COM O COFA

De volta ao Brasil, Rafael intensificou sua formação, trabalhando como analista técnico em duas edições da tradicional Copinha (Copa São Paulo de Futebol Júnior). Atuou como analista particular para clubes e empresários, sempre atento às tendências e evoluções do futebol.

O encontro com o COFA aconteceu de maneira quase simbólica. Em 2024, como treinador do sub-18 do Galo da Boa Vista, enfrentou o COFA em um amistoso e saiu vitorioso. “Desde moleque via meu pai jogar bola nos amadores, sempre ouvi falar do COFA, do Costa e Silva ganhando tudo. Sempre foi referência”, relembra.

O convite para assumir o sub-20 do COFA foi a realização de um sonho de infância. Hoje, mais do que um clube, o técnico define o COFA como “um amor”, uma casa onde foi acolhido e que ele não pretende deixar tão cedo.

CAMPANHA HISTÓRICA

Sob o comando de Rafael, o COFA protagonizou uma campanha memorável na Liga Campineira: 32 gols marcados, apenas uma derrota e a presença garantida na grande final.

Para o treinador, o sucesso a principalmente pela união do elenco. “Montamos um time forte, competitivo, mas o diferencial foi a união. O grupo é muito unido, dentro e fora de campo. Tem alegria, brincadeira, resenha, mas muita seriedade na hora de jogar”, descreve.

A montagem do elenco foi estratégica. Rafael destaca a contratação de peças importantes, como o goleiro Felipe, irmão de Vinícius Dacove — nome conhecido no futebol da região. “Pra mim, ele é o ‘01’ aqui em Campinas. Onde a, é campeão.”

Além da qualidade técnica, Rafael aponta o espírito coletivo como a grande virtude da equipe. “Mesmo muitos meninos não se conhecendo no começo, criamos uma família. Isso fez toda a diferença.”

VIRADA DE CHAVE

Se a campanha foi brilhante, não esteve isenta de obstáculos. A única derrota, justamente na última rodada da primeira fase, contra o Real Juventude, foi um divisor de águas.

O treinador reconhece que o bom momento da equipe até então — com goleadas expressivas, como 10 a 0 na estreia e 6 a 0 fora de casa — pode ter gerado um relaxamento inconsciente. “É normal. Estávamos acostumados a vencer goleando e, de repente, pegamos um time muito bem montado. Aquela derrota mexeu com a gente.”

Mais do que um tropeço, o revés serviu para ajustar a mentalidade do grupo. “Não era para a gente vencer aquele dia. Foi um baque, mas também um aprendizado. Trabalhamos muito a humildade e o foco após aquilo.”

O destino, aliás, reservou um reencontro com o Real Juventude nas quartas de final. E dessa vez, com lições aprendidas, o COFA triunfou.

SUPERANDO O FAVORITISMO

Nas semifinais, o COFA enfrentou o Parque Brasília, apontado por muitos como favorito antes mesmo da bola rolar. O discurso externo, no entanto, não abalou Rafael e seus comandados. Pelo contrário.

“Sabíamos que muita gente achava que já estava decidido. Usamos isso como motivação extra. Trabalhamos internamente para blindar os meninos e mostrar que favoritismo se prova dentro de campo.”

E foi exatamente o que aconteceu: o COFA superou o Parque Brasília e garantiu sua vaga na tão sonhada final.

DECISÃO CONTRA O BOA VISTA

Agora, o desafio final será contra o Vila Boa Vista, adversário duro, que chega com méritos à decisão.

“Estamos estudando muito o Vila. Sabemos que é um time bem organizado, com atletas perigosos. Mas confiamos no nosso trabalho e no que construímos até aqui.”

Para Rafael, mais do que o resultado, o que importa é a trajetória que o grupo percorreu. “Cada menino desse elenco já é um vencedor. Chegar até aqui, depois de tudo que amos, é uma vitória.”

A MISSÃO CONTINUA

Independentemente do resultado na final, a agem de Rafael pelo COFA já é histórica. Sua trajetória inspira e reforça a potência do futebol de base como espaço não apenas de revelação de talentos, mas de construção de cidadãos.

“Não pretendo sair tão cedo. O COFA me acolheu e eu acolhi o COFA. Aqui é minha casa.”

Neste domingo, quando a bola rolar na final da Liga Campineira, mais do que uma taça estará em disputa: estará em jogo a celebração de uma história de superação, propósito e paixão pelo futebol.