Corinthians vota impeachment de Augusto Melo, indiciado no caso Vai de Bet

Reunião iniciada em janeiro é retomada dias após fim da investigação da Polícia Civil que concluiu pagamentos da ex-patrocinadora saíram do clube para o crime organizado

Para o impeachment de Augusto Melo ser aprovado, é necessário a maioria simples do colegiado de conselheiros.

ABC tem saldo positivo no ano, mas campanha na Série C preocupa (Foto: Rennê Carvalho / ABC)
ABC tem saldo positivo no ano, mas campanha na Série C preocupa (Foto: Rennê Carvalho / ABC)

São Paulo, SP, 26 – Quatro meses depois, o Conselho Deliberativo do Corinthians volta se reunir nesta segunda-feira, 26, para votar o impeachment do presidente Augusto Melo. A discussão do tema acontece na sede do Parque São Jorge, com chamadas às 18h e às 19h. Será discutido possível ato de gestão temerária do dirigente, especialmente no que diz respeito ao contrato com a Vai de Bet, ex-patrocinadora máster do clube, cujo pagamento saiu do clube para as mãos do crime organizado.

Na quinta, 22, Augusto foi indiciado pela Polícia Civil por associação criminosa, furto qualificado pelo abuso de confiança e lavagem de dinheiro. O ex-diretor istrativo Marcelo Mariano, o ex-superintendente de marketing Sérgio Moura e Alex Cassundé, dono da empresa intermediária do acordo, também vão responder pelos três crimes. 

Para o impeachment de Augusto Melo ser aprovado, é necessário a maioria simples do colegiado de conselheiros. Ao todo, 300 membros estão aptos a participar da votação. A reunião começou ainda em 22 de janeiro. Naquela ocasião, 240 membros aprovaram por 126 a 114 a issibilidade do processo.

Se o Conselho aprovar o impeachment, Augusto Melo será afastado de maneira imediata e quem assume o comando do clube é o primeiro vice-presidente Osmar Stábile. A partir daí, o presidente do Conselho Deliberativo, Romeu Tuma Jr, tem até cinco dias para agendar a votação da Assembleia-Geral de associados, que vai referendar ou não o afastamento do presidente. 

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Não há prazo estabelecido para a votação dos associados, mas a expectativa é de que não demore mais do que 60 dias para acontecer. Se os sócios aprovarem a destituição, o Conselho Deliberativo convoca uma nova eleição para presidente. Neste cenário, apenas membros do órgão concorrem e votam no pleito. Caso contrário, Augusto é reconduzido ao cargo e o caso é arquivado. 

A “primeira parte” da reunião, ocorrida em janeiro, foi marcada por muita confusão e bate-boca. Apoiadores de Augusto Melo hostilizaram conselheiros na saída do ginásio onde aconteceu a votação e o Batalhão de Choque da Polícia Militar, que estava no local para garantir a segurança, precisou intervir. Diversas faixas com o a frase “não vai ter golpe” foram espalhadas pelo Parque São Jorge. 

Do lado de fora da sede, membros da Gaviões da Fiel, principal organizada do clube, entoaram gritos contra o presidente do Conselho Deliberativo, Romeu Tuma Jr. “Não vai ter golpe” e “Ei, você aí, acabo com a sua vida se o impeachment sair” foram algumas das frases cantadas pelos torcedores. Com o indiciamento de Augusto Melo, a expectativa é de que o clima seja bastante diferente. 

O pedido de impeachment de Augusto Melo é motivado por supostas irregularidades no contrato com a Vai de Bet. O artigo 106 do estatuto do Corinthians cita como motivos para o pedido de impeachment os seguintes itens:

  • a) ter ele praticado crime infamante, com trânsito em julgado da sentença condenatória;
  • b) ter ele acarretado, por ação ou omissão, prejuízo considerável ao patrimônio ou à imagem do Corinthians;
  • c) não terem sido aprovadas as contas da sua gestão;
  • d) ter ele infringido, por ação ou omissão, expressa norma estatutária;
  • e) prática de ato de gestão irregular ou temerária.

Augusto entendia ser necessário o encerramento das investigações pela Polícia Civil para, enfim, a reunião ser realizada. O mandatário se apegava ao fato de a Comissão de Ética do clube ter determinado a suspensão da votação de destituição até que o inquérito ser finalizado. Ele é alvo de outros três processos de impeachment, que fazem referência a questões financeiras do clube, como a reprovação das contas do ano ado e o aumento do ivo. 

O processo de impeachment de Augusto Melo teve início em agosto de 2024. A Comissão de Justiça produziu um relatório citando o caso do “laranja”. Posteriormente, um grupo de 85 conselheiros intitulado Movimento Reconstrução SC, cujo um dos líderes é o ex-presidente Mário Gobbi, entrou com uma representação contra o atual mandatário.

A defesa de Augusto apelou à Justiça de São Paulo para anular a convocação da votação de impeachment por entender que o mandatário não teve direito de se defender adequadamente, mas a ação foi negada em um primeiro momento, mas depois foi concedido efeito suspensivo ao presidente corintiano, que exibiu o documento no Parque São Jorge quando os conselheiros já estavam reunidos para votar a destituição, em 2 de dezembro. 

O Conselho Deliberativo, na figura do presidente Romeu Tuma, entrou com recurso de agravo interno e o efeito suspensivo foi derrubado. Uma nova apelação foi apresentada pelo advogado de Augusto Melo, mas não foi atendida. A ideia é levar o assunto até a esfera federal caso o mandatário venha a sofrer impeachment por parte dos conselheiros.

Entenda o caso Vai de Bet

Primeiro contrato da gestão Augusto Melo, o acordo de R$ 360 milhões da Vai de Bet com o Corinthians, rescindido unilateralmente pela casa de aposta em junho de 2024, previa o pagamento de 7% do montante líquido de cada parcela à intermediadora Rede Media Social Ltda. Ou seja, R$ 700 mil por mês ao longo de três anos, resultando em R$ 25,2 milhões ao fim do contrato. 

Citada no contrato como intermediadora do negócio, a Rede Media Social Ltda. tem CNPJ no nome de Alex Cassundé, antigo membro da equipe de comunicação do presidente Augusto Melo.

A rescisão por parte da Vai de Bet ocorreu após vir à tona rees de parte da comissão pela Rede Media Social Ltda à Neoway Soluções Integradas em Serviços Ltda, suposta empresa “laranja” cujo CNPJ está em nome de Edna Oliveira dos Santos, mulher de origem humilde de Peruíbe, no litoral paulista. 

A Polícia Civil, por meio da Departamento de Polícia de Proteção à Cidadania (DPPC), concluiu que a Rede Social Media Ltda usou uma empresa fantasma para fazer R$ 1 milhão chegar à conta bancária da UJ Football Talent Intermediação, empresa apontada como braço do PCC. O clube nega ter contrato com a empresa. 

À polícia, Cassundé afirmou que sua ligação com o clube se deu por meio de Marcelo Mariano e o ex-superintendente de marketing Sérgio Moura, que deixou o clube no ano ado. O dono da Rede Media Social negou ter atuado efetivamente como intermediário do acordo, apesar do nome de sua empresa estar no contrato. 

Por sua vez, a defesa de Augusto Melo reitera a convicção de que o presidente do Corinthians “não possui qualquer envolvimento com eventuais irregularidades relacionadas ao caso” e que o único papel desempenhado por ele foi “ter recebido a proposta, encaminhado aos departamentos competentes e firmado o contrato com a aprovação de todos os setores envolvidos.”

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